Portugal em risco de as falhar metas de reciclagem para 2020. Terei percebido mal?
Confesso que, apesar de viver num país onde, frequentemente, as metas disto e daquilo não são atingidas, desde há muito pensava que, no que à reciclagem diz respeito, estaríamos no bom caminho. Assim, foi com surpresa que percebi que, como preconizado no relatório anual de Resíduos Urbanos (RU), elaborado pela Agência Portuguesa do Ambiente, a Comissão Europeia colocou Portugal numa lista de 14 países que estão em risco de não conseguir alcançar, em 2020, a meta de reciclagem de 50% dos resíduos domésticos.
Uma vez que se trata de um tema que me é caro, decidi espreitar o tal relatório e não gostei do que li. Vamos por partes…
Decorria o ano de 2014 quando foi aprovado o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU 2020) referente ao período 2014-2020. Neste, são estabelecidas quatro metas nacionais, sendo duas delas resultado direto da aplicação de metas comunitárias à totalidade do território Nacional.
- Prevenção de RU | Dezembro 2020: redução mínima de produção de resíduos por habitante de 10%, em peso, relativamente ao valor de 2012;
- Reciclagem de RU | Dezembro 2020: aumento mínimo global para 50%, em peso, relativamente à preparação para a reutilização e reciclagem de resíduos urbanos, incluindo o papel, o cartão, o plástico, o vidro, o metal, a madeira e os resíduos urbanos biodegradáveis.
Pois é, a análise destas duas metas faz-nos perceber que antes de reciclar os RU podemos dar um outro contributo importante, no que ao consumo sustentável diz respeito, isto é, devemos evitar produzir esses mesmos RU. Como? Reduzindo o consumo.
Infelizmente, não é este o panorama retratado no relatório de resíduos urbanos referente ao ano de 2017. Segundo o mesmo “foram geridos pelos Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos (SGRU) de Portugal Continental, cerca de 4.745 mil toneladas, o que corresponde a um aumento de 2% relativamente a 2016. Este valor poderá justificar-se com um aumento do poder de compra e, consequentemente, do consumo da população no entanto, significa que é necessário fazer uma forte aposta em medidas
de prevenção dirigida não só aos consumidores mas também à indústria e ao comércio.
De acordo com o mesmo relatório, para cumprir a meta Prevenção de RU, definida para 2020, será necessário um decréscimo de produção de resíduos de 18,6%, nos próximos 3 anos,o que se considera um objetivo ambicioso, tendo em conta a tendência contrária nos últimos anos.
No que diz respeito à meta Reciclagem de RU, depois de, entre os anos de 2014 e 2016, se ter verificado um aumento significativo da quantidade de RU sujeita a preparação para a reutilização e reciclagem, em 2017 registou-se uma estagnação.
Conforme consta no relatório acima referido, o resultado de 38%, obtido no ano de 2017, encontra-se ainda bastante aquém da meta definida e, o curto intervalo de tempo que nos separa de 2020, exigirá um esforço considerável para atingir o incremento necessário neste âmbito.
Neste cenário, é crucial incrementar a separação na origem – em casa – e a recolha selectiva. Para tal, um dos caminhos poderá ser a implementação de um sistema de recolha porta-a-porta em vez do atual sistema baseado em ecopontos.