E os crimes de burla informática e nas comunicações?
A apresentação do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) 2018 foi notícia em todos os meios de comunicação social.
Ficámos a saber que, em relação ao ano de 2017, a Criminalidade Geral desceu 2,6% e a Criminalidade Violenta e Grave diminuiu 8,6%. Estas são, sem dúvida, boas notícias pois, os números apresentados, inferiores à média registada na União Europeia (UE), permitem consolidar Portugal como sendo um dos países mais seguros do mundo.
E o crimes informáticos? Como a informação difundida sobre esta matéria foi praticamente nula, decidi espreitar o RASI. Confesso que não me espanta que, na Criminalidade Geral, a tipologia que mais aumentou seja a de “Burla informática e nas comunicações“, nada mais, nada menos do que um aumento de 20,1%!
O que me espanta é o facto dos meios de comunicação social continuarem a ignorar esta realidade não promovendo de forma continuada o acesso a informação compreensível pelo cidadão comum. Existem rubricas de programas e artigos de jornais e de revistas sobre tudo e mais alguma coisa (culinária, jardinagem, maquilhagem, moda, etc.) mas o tema Segurança na Internet raramente é abordado.
Em janeiro deste ano, a SIC deu um passo importante neste sentido com a divulgação do trabalho “A Rede” da jornalista Conceição Lino. No entanto, confesso que fiquei dececionada ao perceber que era apenas uma reportagem e não um programa semanal onde se denunciavam e debatiam casos reais de crimes informáticos.
A tipologia “Burla informática e nas comunicações ” abrange crimes tão diversificados como crime ciberdependente (phishing e malware bancário, Ransonware...); fraude em meios de pagamento (cartão presente, pagamentos mobile e contactless…); crime ciberinstrumental (sextortion, incitação ao suicídio – fenómeno “Baleia Azul” e “Momo”…); exploração sexual de menores online e branqueamento de capitais provenientes do cibercrime.
O aumento deste tipo de crimes nem sequer constituiu uma novidade para a Polícia Judiciária pois, já em junho de 2018, o Diretor da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica (UNC3t), Carlos Cabreiro, alertava para este facto, aquando da apresentação dos resultados do combate à criminalidade informática do primeiro semestre de 2018. As estatísticas apresentadas permitiam, já na altura, prever uma subida exponencial relativamente a 2017. Como se pode agora constatar, a previsão de aumento do número de casos (335) até ficou aquém do número real (1634).
Tendo em conta que os dispositivos móveis como, por exemplo, smartphones, são cada vez mais utilizados nas burlas informáticas, estes números terão tendência a aumentar. Infelizmente, não tenho dúvidas que tal venha a acontecer se não se fizer uma forte aposta no ensino da LITERACIA DIGITAL a jovens e adultos
Fontes: RASI 2018 e Observador